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Segunda-feira, 2 de maio de 2016, seguíamos eu e Marco por uma estradinha estreita que nos levaria a mais um hotel em algum cantinho bucólico da Toscana para nos deleitarmos com os mimos visuais e gastronômicos que a região oferece de sobra! Só que dessa vez... já na entrada do hotel... senti uma energia que causava sensações de arrepios que subiam pela espinha.
Tratava-se de um Hotel Monastério, que se chamava Certosa de Maggiano.
Esse monastério é um dos mais velhos prédios construídos na Toscana, em Siena, em terras do jurista Riccardo Petroni, ordenado cardeal pelo Papa Bonifácio VIII. Petroni deixou em seu testamento uma grande quantia destinada para a construção de quatro monastérios: o primeiro destes foi a Certosa de Maggiano, feita para 12 monges e um padre.
Doze anos depois de começada a construção, o mais novo membro da família Petroni, o jovem Pietro, de apenas 17 anos de idade pediu para ser admitido na ordem dos vales toscanos de Siena, em 1328. Ele era chamado de beato, pois possuía desde bem jovem os poderes de premonição e capacidade de fazer milagres.
Conta-se que, desde a sua adolescência, ele já curava doentes e até mesmo os leprosos da sua cidade. Ele ingressou no monastério de Certosa di Maggiano contra os desejos de seus pais, talvez porque já intuísse que dessa forma conseguiria se dedicar inteiramente a entender seu alto grau de espiritualidade.
Durante a sua vida, Pietro teve muitas visões místicas e executou milagres, ou pelo menos estes foram atribuídos à sua intercessão por parte dos fiéis, trazendo-lhe grande fama e veneração; grandes escritores da época, Francesco Petrarca (1304-1374) e Giovanni Boccaccio (1311-1375) sentiam uma energia de iluminação especial quando chegavam perto dele, que vivia uma vida de silêncio e recolhimento neste belo recanto da Toscana.
Como todo esse movimento de pessoas em busca de milagres estava atrapalhando o ritmo monástico, Pietro abriu mão de suas atividades miraculosas para não perturbar a disciplina, a paz e serenidade que deveriam reinar no local.
Só que os fieis não se conformavam de não poder desfrutar das bênçãos de Pietro, que passou a ficar completamente recolhido em seu ritual de meditação e oração, e então passaram a idolatrá-lo como um santo vivo; e do lado de fora, se formavam filas na porta do mosteiro em busca de sua bênção. Muitos desses peregrinos diziam que uma luz irradiava no céu dos campos toscanos, proveniente do local onde Pietro cumpria seus rituais de iluminação, apenas entrando na mesma sintonia daqueles que o procuravam em busca de um milagre para suas vidas.
Depois vieram as guerras, a destruição e no final dos anos 60 o casal Ana e Adalberto Grossi, que já viviam em Siena, decidiram comprar as terras do monastério e transformar parte do local em residência particular e o restante em um hotel.
Adalberto era um cardiocirurgião de reputação internacional, que se tornou reitor da universidade local e estava bastante hesitante de se empenhar em obra de tamanha complexidade, mas sua esposa, plenamente determinada em realizar um sonho, insistiu com tanta veemência que acabou convencendo o marido.
Foi um grande desafio, as pessoas diziam ser um aventuroso risco e aconselhavam o médico a repensar a aplicação de uma soma tão alta de dinheiro para atender um capricho de sua amada; a antiquíssima construção estava em péssimas condições e a estrutura original do monastério estava sobreposta por horríveis construções que abrigaram muitas pessoas durante a Segunda Guerra.
Anna, apesar de tudo e de todos, sabia que conseguiria trazer de volta o esplendor original e que ali naquele espaço de contemplação, ela, seu marido e seus 5 filhos viveriam momentos inesquecíveis; então uma ala do complexo se tornou a casa da família e na outra ala nasceu esse hotel magnífico que eu estou hospedada, que foi projetado e decorado com uma particular atenção à essência do lugar.
A simplicidade e elegância da original arquitetura do pátio foi trazida de volta, com o pavimento em pequenos tijolos e o poço ao centro, para ser um ponto de apoio para os quatro lados do quadrado; a decoração interior foi feita pelo arquiteto Renz Mongiordino.
Nós fomos recebidos por uma das filhas do casal Grossi que nos fez conhecer cada cantinho do interior e da parte externa desse paraíso renascentista. Os pais dela ainda são vivos e continuam desfrutando dos prazeres de viver num lugar com tanta história para contar.
Fiquei tão inspirada com o lugar, os personagens e o clima que paira sobre o local, que além de escrever esse post e fotografar cada cantinho, gravei um filme que postei no canal da SMA2 Histórias Bem Contadas, no You Tube. Fiquei especialmente mexida pela história de Pietro Petroni, um personagem real que me trouxe mais um pouco de iluminação para seguir na minha jornada de resgatar histórias de gente com G.
Até a próxima!
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Adoro todas as histórias que V. escreve com tanta inspiração e um estilo só teu de fornecer imagens nas mentes de seus leitores.
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Obrigada, Astrid!
Abraço amigo.