A história da SelfStory

Tempo de leitura: 4 minutos

Ano de 2003.

Após ler um artigo na revista Superinteressante sobre “lembranças de vidas passadas que ajudavam a resolver problemas na vida presente”, pensei que esse poderia ser um caminho para descobrir o porquê de suar nas mãos sempre que tentava dirigir um carro, mesmo sem nem engatar a primeira.

Procura daqui e de lá, descobri uma psicóloga credenciada no meu plano de saúde, consultório localizado em Moema, pertinho do prédio em que eu morava à época.

Primeira consulta foi bem descontraída, contei um pouco da minha história e do problema que tinha me levado até lá, pois queria entender e quem sabe, encontrar alguma resposta que fizesse sentido.

Conversa “deu match”, senti firmeza e agendei a primeira sessão de regressão para a semana seguinte.

O cenário da segunda consulta foi à meia-luz, de olhos fechados, com a Daniela tentando várias técnicas para me colocar no modo off. E eu, apesar de visualmente relaxada, estava completamente on. Dentro de mim, até sentia vontade de me envolver no processo, mas os diabinhos da mente me azucrinavam o tempo todo, lembrando que já devia estar quase na hora da reunião de briefing do novo job para a Natura.

Meio sem-graça e ainda de olhos fechados, contei uma história de uma menina assustada, presa num pequeno barco de madeira azul, o barco virando e a menina sumindo mar adentro.

Só que, quando percebi que a minha terapeuta estava acreditando, bateu o maior arrependimento e assumi que estava mentindo só para me sair bem na fita e seguir logo para a minha reunião. 

Foi aí que que a trama mudou, Daniela começou a falar sobre o marido dela, segundo ela, uma pessoa incrível que já havia cruzado os sete mares, se metido em muitas roubadas e com muitas histórias para contar. Como estava curtindo o proseado dela, ainda fiz um monte de perguntas, mesmo com o táxi me esperando há um tempinho.

Para encerrar a cena e criar um gancho para um próximo capítulo, prometi presenteá-la com algo diferenciado que gostava de criar para homenagear pessoas queridas: um acróstico! Um tipo de mensagem pessoal e intransferível, escrita com as iniciais do nome dela.

Dias depois, cumpri o prometido, a Dani ficou muito emocionada e me confidenciou que tinha se enxergado inteira no tal do acróstico. 

O tempo passou. Impiedoso. Mas... senhor do destino.

Inverno de 2012. Recebo um telefonema em que a pessoa se apresenta como Gisa, psicóloga, terapeuta de vidas passadas que tinha se encontrado com a Daniela em um congresso no sul do Brasil e ela havia me indicado para escrever o livro da sua história de vida.

Oi!? Escrever livro? Tudo bem que eu já havia publicado 3 livros, escrito três peças de teatro, criado dezenas de roteiros corporativos, mas o meu plano para o futuro era escrever novelas para a TV Globo e todo o tempo livre estava direcionado para estudar roteiro, criar oportunidades e tentar furar os inúmeros bloqueios que insistiam em atrapalhar a realização desse sonho profissional.

Educadamente explico que a minha agenda estava indomável e que achava melhor que ela procurasse alguém mais experiente na escrita biográfica, com maior disponibilidade de tempo para atendê-la com a atenção merecida.

Gisa insiste, conta mais detalhes da sua história; eu começo a gostar e peço alguns dias para pensar na possibilidade.

Daniela toma conhecimento da minha hesitação em aceitar o trabalho, me liga e provoca à queima roupa: “por que você não topa escrever a história da Gisa e interpreta como se estivesse escrevendo o roteiro de uma novela para a TV Globo?”

Provocação cumpriu o seu papel. Liguei para Gisa e aceitei fazer o trabalho.

E antes mesmo de concluir esse primeiro projeto biográfico roteirizado à minha moda, sou procurada por outras três pessoas interessadas em escrever suas histórias. Uma delas é Rene, marido da minha psicóloga fada madrinha, que queria registrar suas aventuras por mais de 60 países como inspiração para os filhos e também publicá-las em um livro.

Não tinha mais como negar a realidade. O rumo da minha história havia sido completamente alterado depois de tentar saber o que havia acontecido em minhas vidas passadas e a carreira de roteirista havia sim, migrado para biógrafa, editora e mentora de SelfStory. 

Minha empresa, antes denominada produtora de conteúdo, virou SMA2 Editora e passou a criar roteiros de vidas reais, escritos de acordo com a pegada dos personagens protagonistas.

2021. Até hoje não consegui emplacar uma novela ou seriado na Globo, (uma pena porque teria histórias bem originais e cativantes para contar!), mas sou a roteirista/editora mais realizada e realizadora do Universo.

A terapia de vidas passadas me indicou o caminho das pedras da minha vida futura e eu sou muito grata a todo o elenco envolvido nesta trama, que a cada dia indica que vai valer a pena começar mais uma história, de novo e sempre.

Até parece coisa de novela, mas ainda bem que é vida real.

Abraço amigo.

Sandra Mello

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