Tempo de leitura: 7 minutos

Acontece uma coisa curiosa e saudável quando mexemos em cenas que moram na nossa memória afetiva... são cenas que já aconteceram há muito tempo em nossas vidas e parece que começamos a desenrolar um novelo até que, em um dado momento, achamos o fio da meada.
Sabe o que me lembra meada? Duas coisas!
A primeira coisa que vem à cabeça é a imagem de um novelo e uma cena típica dos desenhos da televisão da minha infância: uma bola feita de fios enrolados, que saltitava no colo de alguma vovó, exímia tricoteira. Por vezes essa bola rolava, caía no chão e se transformava em brinquedo do gato da casa.
A segunda coisa é algo que adoro: novelas! Que, assim como o fio único enrolado e entrelaçado em meadas e novelos, tendem a levar os telespectadores ao encontro do fio principal… O FIO DA MEADA.
Mas o meu fio da meada de hoje aconteceu devido a uma troca de mensagens com Lusia, uma prima que não encontro ao vivo há mais de 30 anos.
No Dia da Mães, Lusia me mandou uma mensagem no WhatsApp para me felicitar pela data e eu pedi, como sempre faço, que assim que pudesse, ela me mandasse uma foto atual. Adoro quando ela me envia alguma foto, pois a cada dia que passa se parece mais e mais com a minha mãe. (Uma dupla forma de matar a saudade: da dona Therezinha e também dessa prima, com quem vivi tantas tramas gostosas na infância e parte da adolescência.)
Pois bem, outro dia estava concentrada na escrita de uma biografia quando vi o celular piscando, anunciando que tinha mensagem.
Parei para verificar e encontrei essa foto linda que ilustra este post.
A partir daí o que se seguiu foi um diálogo dos mais ricos de emoção e amor pela SelfStory. Notem como as lembranças foram brotando de ambos os lados e as cenas foram sendo reconstituídas, como em uma novela.
_ Bom dia, prima! Você está linda pegando sol nesse janelão maravilhoso!
_ Você se lembra dessa janela, que era da sua tia Rosa?
_ Nossa! Se lembro! Você sabe que uma das lembranças mais lindas que eu tenho na minha vida, é essa sua casa, que tinha um gramado enorme, de um verde da cor da esperança... tão bem cuidado! Uma vez eu fui aí em São José do Rio Preto (distrito de Petrópolis!) visitar vocês e pouco tempo depois chegou uma turma de amigos do Ivan e do Jorge (irmãos de Lusia!). Eu devia ter uns 10/11 anos e fiquei encantada como esse pessoal era animado! Tinha um deles que tocava violão, os outros cantavam e nós lá, nos divertindo muito, dançando, rodopiando por esse gramado. Aliás, eu me lembro de tantas outras vezes em que fomos aí visitar vocês! Eu, meu pai e minha mãe. Ela achava essa estradinha estreita, ladeada pelo rio Preto, cheio de pedras, muito perigosa. Morria de medo que o carro virasse e seguisse rio abaixo. Eu lembro de cada cena! Elas moram na minha memória afetiva! Tantos programas gostosos e divertidos fizemos juntas. E quando chegava a hora da comida? Se fechar os olhos sou capaz de sentir o aroma dos ensopadinhos, da comida da roça como sua mãe dizia. Esses momentos ficaram marcados porque foram muito, muito gostosos!
_ Então, tudo continua do mesmo jeitinho! Eu continuo vivendo nesse lugar mágico. O gramado continua bem cuidado! Só o meu irmão Ivan que já partiu... Mas você está com uma memória maravilhosa, porque era muito novinha nessa época. Nós ficamos ouvindo música no gramado. Lembro que eram músicas de uma novela que estava fazendo o maior sucesso à época. Foi muito bom, mesmo! Agora, eu que estou impressionada de você lembrar disso tudo. Que coisa surpreendente! Beijo! Te amo muito! Sinto tantas saudades! Mas... infelizmente não podemos nos ver agora. Beijo!
_ Isso mesmo! Eu lembro direitinho dessa novela. Chamava-se “O Primeiro Amor”! Tinha a turma do Rafa - quem fazia esse personagem era o Marcos Paulo, lembra? Era muito gato! E rebelde! Eles formavam “a gangue das motocicletas” ... que por sua vez, serviam como contraponto às bicicletas que apareciam na abertura da novela e na oficina de Shazan e Xerife. No grupo que estava aí na sua casa, tinha um menino gordinho que se parecia com o Moby Dick da novela. Menina! Olha só quantas cenas estão desfilando pela minha memória. O primeiro amor! Ah, que lindo que você também lembra! Eu tenho tanta vontade de ir aí te visitar! Se Deus quiser, quando passar essa pandemia nós vamos nos reencontrar e eu vou rever essa casa linda! Aí em São José moravam várias irmãs da mamãe: tia Cilinha, tia Irene, tia Rosa, que também era sua mãe. Tia Cilinha tinha uma filha que era professora! Eu era apaixonada por quem tinha o ofício de dar aulas. Acho que o nome dessa prima professora era Ely. Ela ficava corrigindo os cadernos dos alunos e colava estrelinhas douradas para quem acertava todo o dever de casa. Eu achava isso o máximo e pensava que quando crescesse também seria uma professora que ia curtir reconhecer o valor dos alunos. Você nem sabe como o meu coração está cheinho de amor com essas lembranças.
_ Tia Cilinha tinha uma filha que era professora, só que se chamava Maria! Sabe, eu senti uma vontade imensa de te mandar essa foto... Você e todo mundo diz que eu pareço muito com a sua mãe... Um dia eu fui levar a minha filha para conhecer a sua mãe e ela ficou impressionada como eu parecia filha da sua mãe! Graças a Deus que eu pareço com a minha tia Thereza!
_ Você se parece muito com a minha mãe! E não é só fisicamente, viu? A minha mãe tinha uma afetividade muito grande pela sua mãe. Ela me contava que tia Rosa é que cuidava dela quando era criança, ajudou a criá-la, sempre carinhosa, compreensiva, amorosa em gestos e palavras. Ela dizia que sua mãe a defendia com unhas e dentes. E você sabe o quanto a minha mãe precisava desse aconchego... Imagino que nossas mães devem estar juntas agora, vivendo a vida que tanto sonharam, em um lugar tão lindo como esse que você morou a sua vida inteira. Felizes! Compreendidas. Vocês têm o mesmo olhar... quando eu olho pra você, eu me reconheço nesse olhar! Entende?
_ É! Minha mãe falava que tomava conta da sua mãe quando ela era criança. Você está lembrando tanta coisa... isso faz tão bem... Sabia que eu estou ouvindo passarinhos cantando aí! Aqui também tem um monte de pássaros! Você já é vovó? Seu filho já casou? Tem neném? Fala pra mim! Eu tenho 3 netos! Uma moça, um menino de 13 anos e uma outra ainda bem pequena.
_ Meu filho Bernardo já casou, sim! Mas nada de netos, ainda... embora eu tenha muita vontade que isso aconteça logo. Fiquei cheia de vontade de ir aí! Assim que isso tudo passar, vou aí e vamos cozinhar juntas! Vamos fazer a maior farra! Amei falar com você! Amei a foto que me mandou. Saiba que apesar de nossas vidas terem tomado novos rumos depois que ficamos adultas, você sempre morou no meu coração! Assim como o Jorge, que foi me visitar em Teresópolis há uns quatro anos e conversamos um dia inteirinho; assim como não esqueço do Ivan, que visitei no hospital e não pude doar sangue, porque estava grávida. Dias depois que estivemos juntos, ele faleceu. Enfim... Fica bem, minha querida! Fica bem! Beijo grande!
_ Obrigada pelas lindas palavras. Deus te abençoe. Outro beijo... bem grande!